Estamos vivendo um momento de grandes produções cinematográficas em animação 3D. Não sei se no futuro, meus filhos irão ver Toy Story 3 e dar risadas, achando ultrapassada a nossa tecnologia (como acontece hoje, quando nos deparamos com os efeitos especiais de 30 anos atrás), mas acho difícil isso acontecer. Claro que novidades irão surgir, elas são mais férteis e incansáveis que coelhos no cio, mas a qualidade Pixar, DreamWorks e BlueSky serão sempre reconhecidas.
Esse excesso de qualidade, tão presente e acessível a todos, traz uma questão no mínimo interessante: como está a exigência e o conhecimento do receptor? Quem assiste uma animação 3D, na maioria das vezes, faz ideia do trabalho e da complexidade daquela produção? Quantos profissionais estão envolvidos? Qual o nível de tecnologia aplicada? Qual o conhecimento necessário? Essas questões não são muito relevantes, até porque o que importa é o entretenimento, certo? Então, vamos nos esbaldar em imagens e nos acostumar a elas. E acostumando, qualquer coisa inferior perde impacto e reconhecimento.
Vou ilustrar para deixar um pouco mais claro o que quero dizer. Quando comecei a estudar o 3D, demorei algumas semanas para chegar na minha primeira animação, mas ela veio. Criei uma cena simples, com um cachorro deitado, olhando uma bolinha que quicava. O movimento da cena ficava por conta da respiração do cachorro, da bolinha (e consequentemente sua forma) e dos olhos do animal, que acompanhavam o artefato de borracha. Simples demais, não? Pois é, foram quase 6 horas de trabalho. Empolgado, chamei minha mãe e meu sobrinho para verem o resultado. Cada quique da bolinha era uma esperança nos olhos do menino que o cachorro se levantasse, pegasse a bolinha e saísse correndo. Depois de alguns segundos de movimentos repetitivos, ele se cansou e saiu sem dizer nada. Minha mãe, logo em seguida, soltou a frase “é isso?”. Pois é. Era só isso. Muito longe de qualquer referência que eles tinham.
Como trabalho com criação publicitária, o 3D ajuda (e muito) em diversos materiais gráficos, porém, a animação nunca foi meu foco. Mas já tive a oportunidade de ver vídeos de produtoras especialistas no assunto que passam para o receptor a mesma sensação. Um produto pequeno, pouco rico, que não representa o que todos estão acostumados a ver.
Se tem um mercado que está crescendo muito é o de animação em tecnologia 3D. Não quero desanimar ninguém, pelo contrário, acho uma ótima aposta para futuros profissionais de comunicação, mas sem dúvida o desafio é muito grande.
Tiago Motta
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